Desde quando minha professora de Geografia do primário - na época o curso se chamava primário - ensinava os nomes das capitais dos países, essa duplinha me fascinava: Tailândia-Bangcoc.Tempos depois, uma amiga visitou o lugar e me deu informações que me possibilitaram escrever matéria sobre a cidade, publicada em maio de 1993 na minha página de turismo na Tribuna da Imprensa.
A Tailândia liderava minha lista de lugares imperdíveis. Quando a viagem se tornou possível, resolvemos atrelar outros países: Laos, Vietnã e Camboja. Bangcoc foi o ponto de partida, onde passamos apenas três dias. A cidade é grande - são 10 milhões de habitantes - e seu maior atrativo são os deslumbrantes templos budistas, de arquitetura trabalhada e mil detalhes decorativos.
Depois de marcada a viagem fomos surpreendidos por enchentes no país. Pensamos em adiar, e durante semanas monitoramos a situação por meio do site da Embaixada do Brasil na Tailândia, bastante informativo. Por sorte, na época de embarcarmos tudo estava resolvido. Ao chegarmos, no entanto, encontramos resquícios do problema: casas comerciais com sacos de areia na frente, para impedir a entrada de água. Ao sobrevoarmos a cidade, vimos os arredores ainda alagados. Mas, onde ficamos, tudo estava normal.
Não conhecemos muito do lugar. Três dias é pouco. Além dos templos, percorremos os arredores do hotel, onde há um mercado de artesanato com um pouco de tudo - e nada muito interessante. No "tudo" inclui-se uma espécie de cabaré onde moças tristes de biquini - que no Rio seria considerado grande - desfilavam em cima das mesas. Aliás, Bangcoc é famosa pelos peep shows, deprimente circo sexual no qual mulheres fazem coisas como, por exemplo, jogar ping pong com a vagina. Evidentemente não fomos, pois, além de sermos contra qualquer tipo de degradação feminina, acreditamos que nossa ausência possa contribuir para o fim desses espetáculos. Sabe aquele passarinho tentando apagar o incêndio na floresta com gotas de água no bico? Pois é. Estamos fazendo a nossa parte.
No capítulo "comida", queria muito degustar in loco a deliciosa culinária tailandesa. Mas, para estrangeiros exigentes, que não conhecem a cidade e não têm indicação de bons restaurantes, é difícil. Por sugestão de amigos, tomamos a ótima - e apimentada - sopa de camarão Tom yam khum num lugar turístico perto do hotel, onde havia também danças típicas e bonitas lojas de artesanato.
Programa turístico tradicional é o mercado flutuante, em canais que cortam os arredores de Bangcoc.
Em volta dos canais, bastante poluídos, há casas cujos habitantes, por incrível que pareça, tomam banho naquelas águas. Nas margens, lojinhas de artesanato vendem chapéus, blusinhas, sandálias e suvenires variados. Pechinchar é obrigatório. Um chapéu típico que custava 1.200 baths - a moeda local - acabou saindo por 100 baths (pouco mais de U$3)!
No caminho para o mercado flutuante há outro programa tão turístico quanto, no Brasil, um show de mulatas feito para gringos: divertido, mas sem muito a ver com a realidade. É o passeio de elefante, voltinha de uns vinte minutos por dentro de um matinho. O condutor se oferece para tirar fotos, e depois tenta impingir uns politicamente incorretos artesanatos de marfim. O passeio é uma bobagem, mas não há como não fazer. Afinal, onde mais vamos poder montar no lombo de um elefante?
A propósito de programas turísticos, por fim, mas não por último, a famosa massagem tailandesa. Há inúmeras casas de massagem espalhadas pela cidade. Nada a ver com o sentido pejorativo que têm no Brasil. A massagem tailandesa é fantástica, relaxante, barata e, sem exagero, imperdível. Fizemos todos os dias. Assim como no Brasil há barbeiros e cabeleireiros em cada esquina, em Bangcoc há ofertas de todo tipo, com menus à escolha do freguês. A mais comum é nos pés e tornozelos. São 60, 90 ou 120 minutos de puro paraíso.
O reino da Tailândia, antigo Sião (onde - pedindo desculpas pela piada infame - não vimos gatos nem irmãos siameses) é o único país do sudeste asiático nunca colonizado por europeus. É uma monarquia constitucional: o rei é chefe de estado; o primeiro ministro, chefe de governo. Desde agosto de 2011 o cargo de primeiro ministro é pela primeira vez ocupado por uma mulher, a bonita Yingluck Shinawatra, de pouco mais de 40 anos.
Nossa guia, Nan, declarou não gostar de Yingluck Shinawatra. O motivo é que o antigo primeiro ministro, em cujo mandato ocorreu o tsunami, era irmão dela. Agora, com Shinawatra no poder, houve no país as piores enchentes dos últimos cinquenta anos. "A família dela é de água", disse Nan. Rimos, mas a moça falava sério.
Por falar em poder, notável é o culto à pessoa do rei, Bhumibol Adulyadej. O país todo se preparava para o 84º aniversário dele, e havia fotos da família real, o rei em destaque, em todos os lugares: viadutos, altares montados ao lado das casas, paineis por toda a cidade.
Quando estávamos no Laos, em 5 de dezembro, dia do aniversário de Adulyadej, vimos pela televisão grandes manifestações populares nas ruas, multidões emocionadas comemorando. Impressionante.
Exemplos do culto ao rei: acima, na fachada de um templo; ao lado, num "altar" em frente ao hotel. À minha esquerda, Nan, a guia. À direita, o motorista.
Impressionante também é a religiosidade do povo. Quase 100% são budistas. Na frente da maioria dos estabelecimentos comerciais há altares para atrair boa sorte nos negócios. Há estátuas de Buda de todos os tamanhos, de ouro maciço, de esmeralda (que dizem não ser esmeralda, mas jade). A figura de Buda popularizada no Ocidente é o chinês: gordo, sorridente e sentado em posição de lótus, lá chamado Buda Feliz. Os do sudeste asiático são sérios, magros e estão de pé, sentados ou reclinados, como este acima, imenso, ocupando uma sala inteira do templo.
A população professa sua religião com fervor, e nos templos faz oferendas de alimentos, dinheiro e até produtos de limpeza. Observe ao lado e abaixo.
Enfim, é uma cultura fascinante, sob todos os aspectos. Quando marquei a viagem, dizia aos amigos: estou me sentindo como se fosse a Marte. Sim, fui a Marte, tamanhas as diferenças entre os mundos ocidental e oriental. Posso dizer que Bangcoc correspondeu ao meu encanto, da época em que, no primário, recitávamos em sala: Tailândia-Bangcoc.
Abaixo, um detalhe curioso: em algumas danças, os dedos das mãos das delicadas bailarinas, voltados para fora, lembram enfeites dos telhados dos templos.
Adeus, Tailândia. Agora, em direção a Luang Prabang, no Laos.
Interessantissimo
ResponderExcluirCláuda, lindíssimas fotos, muito bem apresentadas junto aos magníficos comentários neste belo blog.
ResponderExcluirParece até que estamos fazendo a viagem com vocês.
Obrigado pela emoção
Saul
Cláudia, suas fotos estão maravilhosas, e o texto ótimo. (Nada como ter know-how!)
ResponderExcluirEsperamos ansiosos a chegada no Laos.
Beijos,
Telma e Bruno
Oi Claudia,
ResponderExcluirFascinante. Aumentou minha curiosidade, que já era grande, e o sudeste da Ásia subiu de posição na minha lista de viagens a fazer. Quando acabar de ler seu último relato, periga eu sair correndo prá lá... rsrsrs...
Valeu!
Beijo
Guiga
Achei fascinante tudo, as fotos o texto... MARAVILHOSO, QUERO MAIS!!!
ResponderExcluirFernanda Caetano
Formas e cores deslumbrantes que nos transportam para um cenário sensorial e sensual! Obrigada pela viagem. Isa
ResponderExcluirSuper interessante, da uma vontade danada de conhecer esses lugares e quanta história e informação para três dias, muito bom! Valeria
ResponderExcluirClaudinha, minha querida amiga mais viajandeira,
ResponderExcluirestou adorando seguir vocês nessa aventura oriental. Lindas e divertidas fotos, comentários e descrições super legais; coisa de profissional competente. Aguardo a sequência. Bjs, bjs.
Doia
CLAUDIA, VC MOSTROU COM MAESTRIA AS BELAS FORMAS E CORES DO LOCAL.
ResponderExcluirA SENSAÇÃO ERA QUE EU ESTAVA LÁ COM VCS. ADOREI.BJS. LÉA CARNEIRO
Maravilha! Excelente escolha.
ResponderExcluirAdorei, Cláudia e Jitman! São lindas as fotos e o texto é super agradável de ler. Dá para imaginar como foi ótima a viagem.
ResponderExcluirBeijos,
Maria Clara.
Claudia: Que viagem linda! Quanta riqueza de culturas tão distantes vai trazer para compartilharmos.Parabéns pela experiência rica que está desfrutando.
ResponderExcluirParabéns Claudia! Lembrei da minha viagem a BKK o ano passado... Jorge 'rosadinho'
ExcluirOi, rosadinho! Adorei seu comentário. Não sabia que vc tinha ido a BKK, se soubesse tinha pedido dicas sobre a cidade! Bjs.
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