Quando Oanh, nosso guia em Hanoi, percebeu que nos interessávamos por algo mais do que os aspectos turísticos da cidade, incluiu no roteiro o Museu da Guerra, onde está a escultura acima, construída com restos de aviões abatidos durante o conflito com os americanos. Disse-nos que civis participavam das operações. A moça da foto em frente à obra, por exemplo, arrasta destroços do avião que ajudou a derrubar. Durante a visita ao Museu, vimos jovens alunos de academias militares aprendendo sobre seu país.
No decorrer de sua História, o Vietnã foi atacado por grandes potências mundiais: a Mongólia de Genghis Khan; a China; a França; o Japão; e, por fim, os Estados Unidos. A dominação chinesa durou mil anos; a francesa, cem. Os japoneses chegaram durante a Segunda Guerra. Mas, afinal, todos foram expulsos. A derrota imposta ao exército de Genghis Khan marcou o início da queda do império mongol. Os arrogantes EUA foram escorraçados há pouco mais de trinta anos. Deduz-se que o vietnamita, apesar da aparência frágil, não está para brincadeiras. Tem defendido sua terra e sua autonomia com unhas e dentes. Respeito é bom, e eles gostam.
Curioso povo: nosso politizado guia - que, ao nos buscar no aeroporto apressou-se em dizer que ficaríamos num hotel construído com capital suíço - em nossas visitas a templos, parecia rezar. Perguntei-lhe sobre isso, e ele respondeu que não acreditava em rezas, mas assumia postura de respeito com os antepassados. Esclarecimento: no Vietnã, templo é um memorial em homenagem a antigos generais, filósofos ou outras figuras proeminentes - como na foto abaixo. Os lugares dedicados a religião chamam-se pagodes.
O Vietnã tem cerca de dez vezes mais habitantes por quilômetro quadrado do que o Brasil. Tamanha concentração demográfica é visível em Hanoi - que, para completar, tem quantidade inacreditável de motos nas ruas. A população, que antes se locomovia em bicicletas, agora, com melhor renda, optou por transporte mais rápido e eficiente. O resultado é impressionante: trânsito caótico, embora em velocidade civilizada.
Observamos certa paranoia com relação à poluição. Muitos andam com máscaras na boca e no nariz. O guia informou que, além da poluição, o que incomoda é o sol: as pessoas tapam o rosto porque não querem escurecer a pele.
Não há muita preocupação quanto à segurança nas motos. Crianças, mulheres grávidas, famílias inteiras, todos andam encarapitados sobre duas rodas.
Nas ruas, os contrastes entre o moderno e o antigo são evidentes:
O guia Oanh explicou que a abertura econômica, nos moldes da China, aumentou a produtividade e beneficiou a população.
Oanh, nacionalista convicto, falava sempre na primeira pessoa do plural, referindo-se às medidas tomadas pelo governo. Mostrava uma sensação de pertencimento, como se tivesse ingerência nas decisões.
Há no país muitos mutilados de guerra, assim como pessoas cujos pais sofreram os efeitos do "agente laranja", desfolhante despejado às toneladas pelos americanos, e geraram filhos com algum tipo de deficiência. "Nós criamos empregos para essas pessoas", disse Oanh, e nos levou a oficinas onde artesãos bordam pacientemente, ponto a ponto, quadros com belas paisagens do país. Os turistas se encantam.
O heroi nacional é Ho Chi Minh, cujo corpo embalsamado é reverenciado num mausoleu onde só se pode tirar fotos externas.
À entrada, num grande mural, está escrito "Viva a República Socialista do Vietnã!".
Turistas e nacionais fazem fila e têm apenas alguns instantes para olhar o estadista que, deitado no esquife, parece adormecido.
Mas em Hanoi não se respira apenas política. O teatro de marionetes dentro d'água é uma tradição que não se pode deixar de conhecer.
Os artistas, por trás das cortinas, também dentro d'água, manejam as marionetes por meio de bastões. Encenam lendas e mitos do folclore vietnamita, acompanhados pela orquestra típica.
No Templo da Literatura, construído em 1070 e primeira universidade do Vietnã, uma turma comemorava o aniversário de formatura defronte ao altar dedicado a Confúcio...
(ligue o som)
... e musicistas mostravam suas habilidades em instrumentos antigos, tocando música tradicional do país:
Na periferia da cidade, a caminho da baía de Ha Long, os arrozais fazem parte da paisagem.
* Os vídeos dessa postagem foram gravados por Jitman Vibranovski
Próxima semana: baía de Ha-long