O que eu mais gostava, quando dizia que íamos a Anavilhanas, era o espanto do interlocutor (“ahn?”) e as perguntas que se seguiam: onde fica? no Caribe?
O Brasil não conhece o Brasil, já disse Aldir Blanc. Pra quem não sabe, o Parque Nacional de Anavilhanas é o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, com cerca de 400 ilhas, e fica no Rio Negro, Amazonas.
O Rio Negro tem águas realmente negras, gosto amargo e ph ácido, o que faz com que, felizmente, não tenha mosquitos. Nasce na Colômbia e, já no Brasil, depois de unir-se ao Solimões – quando se dá o famoso encontro das águas, de que trataremos adiante -, forma o Amazonas.
Para chegarmos a Anavilhanas voamos até Manaus, onde o hotel manda buscar os hóspedes. Achávamos que iríamos de barco, mas uma ponte contruída há pouco leva à outra margem do rio, e em três horas chegamos ao nosso destino, o hotel de selva que seria nossa base para conhecer o arquipélago.
Passear pelos igarapés e igapós é uma experiência inesquecível: árvores imensas, centenárias, com os troncos submersos. Em julho, quando fomos, já era época da vazante, mas o rio ainda estava dez metros acima do nível habitual. É um espanto para nossos olhos citadinos quando nos damos conta de que estamos vendo apenas a copa das árvores, e que há dez metros de troncos debaixo d’água.
O hotel organiza diversos passeios para os hóspedes. A pescaria de piranha (abaixo) é um deles. Mas é uma diversão sem agressões à natureza, pois as piranhas pescadas são, em seguida, jogadas na água. Vale pelo lindo visual do rio e da floresta alagada.
Outro passeio é às comunidades ribeirinhas, onde vimos pássaros como gavião e arara.
Imprescindível é conhecer os botos cor de rosa, lindos. Eu não tinha ideia de quão cor de rosa eles são.
Os botos, selvagens, alegres e brincalhões, vivem soltos. Mas todos os dias, em determinada hora, chegam a esse lugar onde são alimentados, fotografados e admirados.
À noite o hotel promove excursões de barco, que percorre as ilhas e permite que os turistas vejam e fotografem animais de hábitos noturnos, entre os quais esse sapinho à direita.
O hotel tem boas instalações, bem integradas à natureza. Bangalôs, deque com piscina em frente ao rio, mirante, redário para descanso, sala de jogos e de televisão (argh – quem quer TV naquele lugar paradisíaco?).
Numa noite, na hora do jantar, percebemos uma visitante no teto do refeitório: essa senhora negra à esquerda. Sem dramas. Os invasores éramos nós.
Tudo é novo e intrigante. Mas a verdadeira epifania é o nascer do sol. Pegamos o barco com o dia escuro, a estrela D’Alva ainda no céu.
O dia vai nascendo num transmutar de cores impressionante. Todos se calam para apreciar a força da natureza e ouvir os ruídos dos animais acordando.
Finalmente o sol aparece, bandos de pássaros passam voando e a festa do dia se instala.
Em cima das árvores vimos casais de papagaios, aves monogâmicas que podem viver até 80 anos ao lado do mesmo par.
Depois de cinco ótimos dias, na hora de ir embora o programado era voltar de van, como tínhamos ido. Mas uma novidade foi irresistível: o hidroavião que, com quatro passageiros mais o piloto, sobrevoou o arquipélago e pousou em Manaus no mesmo rio Negro.
Em Manaus, muitas atrações. O porto, por exemplo, de onde partem barcos para toda a Amazônia, é uma delas. As embarcações saem cheias de passageiros com redes e bagagens. São o meio de transporte mais viável naquela região carente de estradas e com tantos rios.
Há um mercado só de bananas, de todos os tipos e tamanhos. Outro, onde a estrela é o peixe.
A cidade não é bonita, mas guarda tesouros da época áurea da borracha.
De todos, o mais belo é certamente o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896, no auge do fausto do Ciclo da Borracha.Tombado pelo Patrimônio Histórico em 1966, foi restaurado em 1990, e promove festivais de ópera, teatro, música e dança.
Visitas guiadas mostram os detalhes da arquitetura, dos afrescos e demais ornamentos. Com linda cúpula externa de telhas vitrificadas e escamas em cerâmica esmaltada, o teatro é a principal atração da cidade.
No entorno de Manaus pode-se ver o famoso encontro das águas escuras do rio Negro e das barrentas do Solimões.
Os dois correm paralelos por cerca de 6 km, sem que se misturem, com velocidades, densidades e temperaturas diferentes. Colocando a mão dentro d’água, é possível sentir a diferença de temperatura: 28 graus do Negro e 22 do Solimões. É curioso.
Perto estão as comunidades ribeirinhas, que vivem em casas flutuantes.
Barcos escolares transportam as crianças para o colégio.
As famílias criam animais silvestres, e ganham alguns trocados exibindo-os aos turistas.
Meu preferido é a preguiça, bichinho que tem os movimentos ultralentos e parece estar sorrindo.
Próxima postagem: Natal, RGN
Bacana, Claudia! Conheço bem esse pedaço maravilhoso de mundo.
ResponderExcluirabraços
Andreas
Lindas fotos, texto jornalístco de primeira e muitas novidades, como sempre - obrigado pelo passeio
ResponderExcluirSaul
Que barato, Cláudia! bela viagem e muito interessante para quem lê! bela e instrutiva. parabéns!
ResponderExcluirbeijos,
Suzi
Linda edição do blog, Claudia. Vocês são realmente aventureiros!! Adorei as fotos, menos a do Jitman com a cobra. Credo!
ResponderExcluirbeijo
Gostei muito de ver minha terra sendo visitada e apreciada por vcs. Nasci em Manaus, em 1949, lá vivi minha infância, vim para o Rio com 10 anos, e minha memória é repleta de imagens belas,misteriosas, como as histórias contadas pela minha tia avó. O céu nessa época era brilhante de estrelas, a floresta bem mais próxima do nosso quintal, a chuva torrencial batia feito corda, o sol de brilho intenso. Isso me marcou pra sempre, a fartura de peixes e frutas, árvores gigantescas... rio negro e profundo, canoa, barco e o lindo Teatro Amazonas, que todo o manauara enaltece. Bjs
ResponderExcluirBonito o que vc escreveu, Vera. É bem amazônico, grandioso. E curioso, não sei porque, me lembrou de um detalhe: nossa roupa não secava nunca! Se ficasse na sombra, então... Uma vez entrei no rio de bermuda, e ela ficou molhada durante dias, até que me dei conta de que, se eu não a pusesse no sol, ela continuaria úmida indefinidamente. Então eu andava sempre atrás de um lugar onde houvesse sol pra colocar as roupas molhadas.
ExcluirEi Claudia!
ResponderExcluirÓtimo relato, fotos maravilhosas, lugar lindíssimo! Já estive em Manaus, no Rio Negro, em Manacapuru, mesmo assim sou da turma que nunca tinha ouvido falar de Anavilhanas.
Beijos pra você e Jitman!
Angela
Parabéns, Cláudia, bela viagem e belas fotos.
ResponderExcluirBjs., Mauricio Murad.
Que lindeza, Claudia!
ResponderExcluirVocê devia receber uma remuneração dos Ministérios do Turismo (existe?) e do Meio Ambiente por revelar as Anavilhanas aos desconhecedores, como eu. Já incluí na lista de viagens! Valeu, Beijo!
Guiga
Também acho, Guiga!Sugira a eles, rsrs. Beijo.
ExcluirMuito Lindo Cláudia!
ResponderExcluirLindas fotos e viagem!
Obrigada por compartilhar!
Bjs!
Iris
Incrível. Eu não fazia ideia de onde ficava. Coisa mais linda! Obrigada por compartilhar seu blog de viagens. Eu também adoro viajar. Beijo grande, Julita
ResponderExcluirClaudia, parabéns.É preciso ter olhos para ver tanta beleza, e vc os tem. Bjs Léa
ResponderExcluirMais uma vez, obrigada pelas fotos e texto cheios de poesia. Parabéns. Bjs, Isa
ResponderExcluir