É um cartão postal. Vermelhos, amarelos, marrons e verdes na vegetação, um friozinho gostoso, paisagens deslumbrantes, uma lua cheia inacreditável com o céu ainda claro… Sem contar os chocolates, uma festa para as papilas gustativas.
No outono ainda não há neve nem gelo, a não ser os glaciares do distante El Tronador, montanha a 2.100 metros acima do nível do mar, e que tem esse nome por causa dos pedaços da geleira que se desprendem e fazem barulho parecido com o de um trovão. É passeio indispensável, que dura o dia inteiro. Dica importante: levar sanduíches, pois no único restaurante disponível a comida é intragável.
Aliás, em Bariloche custamos a acertar no quesito alimentação. Os restaurantes são tipo armadilha para turistas, muito enfeitados e folclóricos, onde o menos importante é a comida. Só depois de experiências mal sucedidas conseguimos acertar: Chez Phillipe, Charming e Jauja são boas indicações, assim como Covita, para comida natural (existe a não-natural?), e Carlitos, para gostosos sanduíches.
No capítulo comida, os chocolates são um capítulo à parte. Inúmeras casas oferecem produtos artesanais da melhor qualidade, com diferentes recheios, deliciosos. As vitrines atraem os olhares e deixam água na boca.
Além dessas delícias, muitas casas oferecem patês de salmão e de trutas, especialidade da região, e embutidos defumados de cordeiro patagônico e javali.
Mal comparando, pode-se dizer que a cidade é alguma coisa entre Campos do Jordão e Gramado, com estilo arquitetônico que eles chamam de suíço-argentino ou suíço-patagônico, se bem me lembro.
Mesmo fora da temporada de inverno, há turistas pelas ruas. E um detalhe triste: muitos cachorros abandonados. São grandes, bonitos, de raça, alguns até com coleira. Mas os donos desistiram de cuidar deles e os largaram pelas calçadas, onde eles ficam por perto de quem os alimente. Dá pena, pois a gente fica imaginando onde eles dormem no inverno.
Característica interessante da cidade são as árvores cobertas por crochê. Isso começou quando, em 2011, o vulcão chileno Puyehue entrou em erupção e espalhou cinzas pelos países da região. Bariloche foi afetada, e durante cerca de dez meses os voos para o lugar foram interrompidos, atrapalhando o turismo. A cidade ficou coberta de cinzas. Como numa nevasca, os habitantes tinham de removê-las das ruas para sair de casa. Então, alguém começou a alegrar a cidade, colocando telas de crochê envolvendo as árvores. Colorido, curioso e bonito.
Sabe-se que o povo argentino é bastante politizado. Lá, ao contrário do Brasil, torturadores e ditadores são presos e pagam por seus crimes. Em Bariloche pudemos sentir reflexos dessa personalidade. O chão da praça do Centro Cívico está cheio de referências aos desaparecidos políticos, e placas de ruas foram alteradas, sugerindo que os nomes fossem trocados por heróis da resistência assassinados pela ditadura militar.
Outra demonstração da politização foi a passeata a que assistimos, de ex-empregados de uma casa noturna que fechou, e cujos donos não pagaram os salários devidos. A manifestação, com homens, mulheres e até bebês, percorreu a principal rua da cidade e se deteve em frente à casa de um dos sócios, com os integrantes tocando cornetas, tambores, e gritando palavras de ordem.
Além dos aspectos urbanos, o que mais se destaca em Bariloche é a natureza. A cidade está à beira de um lago com mais de 400 km de extensão – aproximadamente a distância entre Rio e São Paulo. As paisagens são belíssimas, e um passeio dos mais agradáveis é à Ilha Vitória, com sequóias centenárias, onde se faz uma caminhada de cerca de 1 km.
No barco, passageiros oferecem biscoitos às gaivotas, que vêm arrancá-los das mãos das pessoas.
Outro lugar belíssimo é o Campanário, ao qual se chega por um teleférico.
Foi emocionante, em determinado momento, descobrir um foco de incêndio na floresta e avisar os responsáveis.
No último dia, depois de outros passeios, como ao Cerro Catedral e ao Cerro Otto, a surpresa foi a lua cheia que apareceu em meio aos ciprestes.