Se for a Morro de São Paulo, fique por lá. No máximo, dê um pulo a Garapuá, terra da lambreta, o delicioso marisco baiano. Não se aventure a conhecer Moreré, por favor. Mantenha intocado esse lugar, que além do mais é de difícil acesso. Desista.
Na entrada da vila de Morro de São Paulo há uma amurada e um portal. São resquícios da fortaleza construída no século XVIII, durante o período colonial, para proteção contra as invasões holandesas e francesas.
Em Morro a gente se lembra dos baianos Gilberto Gil (toda menina baiana tem encantos que Deus dá; toda menina baiana tem um jeito que Deus dá) e Caetano Veloso (quando essa preta começa a tratar do cabelo, é de se olhar toda trama da trança transa do cabelo…).
A cidade é dividida em praias: Primeira Praia, Segunda Praia, Terceira Praia… Pra quem gosta de agito as primeiras são perfeitas; mas quem prefere calma escolhe uma pousada na Quinta Praia, de frente para o mar, cercada de verde e tranquilidade.
Depois, para começar o périplo até Moreré, um carro percorre a estrada rústica, envolta em densa vegetação. No caminho fica Garapuá, a terra da lambreta - pra quem não sabe, uma das mais saborosas marcas registradas gastronômicas da Bahia.
Ótimo lugar para comê-las, acompanhadas de batida de limão ou cerveja gelada, é no Kiosk do Capitão Pipoca. De sobremesa, a cocada com abacaxi da Zélia, feita com água de coco e servida na folha de bananeira. Delícia.
Garapuá é uma típica cidadezinha do interior.
Mas ainda há muito caminho pela frente. Numa ponta de terra pega-se um barco para a ilha de Boipeba. Lá, depois de longa caminhada, malas em punho, uma jardineira puxada por trator leva a Moreré. No mínimo, pitoresco.
Lá, o chalé do hotel fica no meio do mato, e o caramanchão onde o café da manhã é servido tem vista para o mar. É tudo simples, mas muito agradável.
Moreré mexe com os viciados parâmetros de tempo e espaço de quem mora em cidade grande.
Não há muito a fazer, a não ser curtir a praia, a água morna, a paisagem. E observar as pessoas, os variados tipos humanos.
A estrangeira que vende batiks, o nativo e a menininha na rede, a mãe que banha o filho.
Debaixo da amendoeira, em frente à praia, é um bom lugar para conversar, descansar… E para as aulas de ioga e meditação de um guru barbudo.
A vida corre mansa. A maré baixa deixa os barcos a descoberto. O momento é propício para reparos no casco.
À tardinha a maré já encheu, e crianças brincam na água. Ótima ideia é comer tapioca no quiosque onde pode aparecer uma garota mexicana, que canta lindamente e passa o chapéu depois de duas ou três canções. Moreré surpreende.
Se a noite é de lua a vontade é contar mentiras, se espreguiçar, deitar na areia da praia… O baiano Dorival Caymmi teria se inspirado em Moreré?
Uma estradinha cheia de vegetação, hibiscos e beija-flores leva à praia de Bainema, onde se pode andar por muito tempo sem encontrar ninguém.
Imperdível é a Ponta dos Castelhanos, onde no fundo do mar está o navio espanhol Madre de Diós, naufragado em 1553. Com sorte e maré baixa, mergulhadores poderão avistá-lo. Mas os comuns mortais se comprazem em, com máscaras de mergulho, nadar nas piscinas naturais e admirar os peixinhos coloridos nos arrecifes de coral. Depois, em terra firme descansar à sombra das palhoças dos bares locais.
Lá, dona Glória prepara pasteis de lagosta, siri e camarão. Para acompanhar, a inegavelmente melhor batida do mundo, feita com beri-beri, cacau, carambola, cajá, mangaba, seriguela, umbu e abacaxi, tudo junto e misturado. Dos deuses.
Há nove anos, Nélio, mestre dos magos, prepara essa delícia, que ganharia qualquer concurso. Depois dela, a pedida é um mergulho na enseada em frente.
Aliás, no capítulo comes e bebes, Moreré é generosa. Várias pousadas abrem seus restaurantes ao público. Mas o melhor é atravessar uma trilha à beira mar e chegar ao Paraíso, que serve ótimos pratos de frutos do mar e – importante - a bom preço. Mais adiante, na praia de Cueira, há outro restaurante famoso. Mas é ruim, caro, muito concorrido e com música agressivamente alta. Pelo jeito, a fama subiu à cabeça do proprietário.
No Paraíso, moquecas e guisados enchem os olhos e alegram o estômago. Também é possível presenciar a chegada dos peixes que serão servidos no dia seguinte.
Outro passeio imprescindível é ir de barco às piscinas naturais, onde há bares flutuantes com mesinhas idem. Peixe, lagosta, lambreta, camarão, pastéis, cerveja, água de coco, caipifrutas… O cardápio é variado.
Peixinhos curiosos fazem cócegas nas pernas dos invasores de seus domínios.
E, na pousada, de manhã bem cedo um visitante topetudo vem fazer seu barulhinho característico.