Da belíssima Carneiros, em Pernambuco, pode-se dizer sem medo de errar: vá, antes que acabe. Para os padrões do sudeste, o lugar ainda é semi-selvagem; mas, além dos hotéis e dos restaurantes já existentes, há pelo menos um condomínio sendo construído à beira-mar, e infelizmente o Nordeste tem exemplos bem conhecidos de praias quase desertas que se descaracterizaram.
O processo ainda é incipiente, e será irreversível? Difícil saber. Mas por enquanto Carneiros vale cada minuto no mar verde, cristalino e de temperatura peculiar, ou na praia cercada por milhares de coqueiros, onde é agradável tanto ficar durante o dia quanto passear ao anoitecer.
De dia, nada como lagartear na praia ou na piscina do hotel, tomando drinques e degustando petiscos típicos.
Aulas de stan up paddle – como será o nome em português? – estão disponíveis. As crianças adoram, já os adultos têm um pouco de vergonha dos inevitáveis tombos.
Ótima ideia é um passeio de catamarã pelas redondezas. A primeira parada é no banco de areia da foto acima.
Do barco se avista a singela igrejinha de São Benedito, construída à beira-mar no século XVIII.
Outra parada é na praia de Guadalupe, para um divertido banho de argila.
Além do passeio de barco, outra boa pedida é ir de bugre, pela praia, até a divisa de Alagoas com Pernambuco. Ao anoitecer, se a maré estiver baixa, caminhar pela praia perto do hotel ouvindo o farfalhar dos coqueiros, esperando a noite chegar…
…e, com sorte, ser brindado com uma deslumbrante lua cheia.
Segunda escala: Maragogi
Essa era a vista que tínhamos de nossas espreguiçadeiras e colchões em frente à piscina, no hotel em Maragogi. O nome do barco visto na foto é bem apropriado: Tô à toa. Foi como ficamos durante quatro dias, comendo a deliciosa comida do chef Sandrijn, holandês dono da pousada, degustando drinques e petiscos em frente à praia, tomando sol e curtindo a brisa típica da região.
Em Maragogi, o melhor é não ficar na praia de Maragogi, e procurar um hotel longe do agito e do barulho. Foi o que fizemos.
As iguarias do chef Sandrijn são inesquecíveis. Sem contar que estava na época de um festival de lagosta...
Maragogi é chamada “Caribe brasileiro” por causa das piscinas naturais. A denominação é uma bobagem, não há comparação entre os dois lugares, cada um tem seus próprios encantos.
As piscinas naturais de Maragogi, chamadas Galés, ficam a 6 km da costa. Fazem parte da Costa dos Corais, a maior Área de Proteção Ambiental (APA) da Marinha brasileira, formada por arrecifes com 150 km de extensão, que se estendem por quatro municípios de Pernambuco (São José da Coroa Grande, Barreiros, Tamandaré e Rio Formoso) e nove de Alagoas (Maragogi, Barra de Santo Antônio, São Luís do Quitunde, Passo de Camarajibe, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Japaratinga).
O passeio às Galés é feito de barco, e inclui equipamento de mergulho para observar os peixinhos coloridos. Para preservar os corais, o número de visitantes é limitado.
Voltando à terra firme, as paisagens bucólicas se sucedem. Vale tanto andar pela praia deserta quanto admirar, em frente ao hotel, a garça solitária e o barco de pescadores.
Num passeio pela praia até a foz do Rio Maragogi pode-se encontrar uma família local e suas crianças de olhos formosos fazendo piquenique.
A vista do Mirante do Cruzeiro é linda. Mas mostra bem a necessidade de um plano diretor ordenando a cidade, para evitar que a construção desordenada de casas e a especulação imobiliária destruam aquele paraíso.
No povoado, a Vitrine do Artesão exibe bonitos trabalhos - sandálias, chapéus, bolsas, bijuterias, bordados -, alguns feitos pelas Mulheres de Fibra, oriundas de assentamento rural das proximidades, que complementam o orçamento doméstico produzindo artesanato com fibra de bananeira.
Terceira escala: São Miguel dos Milagres
São Miguel dos Milagres ou Porto de Pedras? A antiga Freguesia de Nossa Senhora Mãe do Povo - que mudou de nome depois que um pescador achou na praia uma imagem de São Miguel Arcanjo e ficou curado de uma doença – emancipou-se de Porto de Pedras em 1960.
O litoral de Alagoas é um dos mais bonitos do Brasil. E o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado é um dos mais baixos, o que não impede que haja excelentes hotéis e pousadas, com todos os confortos e mimos para os hóspedes. São os reflexos da péssima distribuição de renda brasileira, que continua uma das piores do mundo, embora as desigualdades sociais tenham diminuído nos últimos anos.
A pousada, num grande terreno em frente à praia, tem decoração ao mesmo tempo simples e sofisticada.
O dolce far niente é tudo quanto um turista deseja.
Os detalhes da decoração e o bem cuidado cardápio completam o ambiente pra lá de charmoso.
Na praia deserta cabritinhos passeiam, e uma jangada pode levar até os arrecifes próximos, para mergulhar e observar os peixes.
Imperdível é ir até o santuário do peixe-boi-marinho, animal ameaçado de extinção. Guias especializados acompanham os visitantes, que não devem se aproximar muito dos bichinhos, pois eles são afáveis, acostumam-se facilmente à presença humana e podem ter dificuldade de se adaptar novamente ao habitat natural.
Em Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres há interessantes exemplares de arquitetura do início do século XX.
Por fim, mas não por último, indisfarçáveis indícios do desnível social brasileiro: ao lado do nosso hotel, cabanas de palha na praia; e, a caminho do aeroporto de Maceió, acampamento dos Sem-Terra.